GREENWALD: Incluindo o direito para casar?
DA SILVA: Incluindo o direito para casar! Eu quando falo de união civil, já falo em casamento, tá? Eu, sinceramente, acho que as pessoas têm que viver como quiserem. Desde que cada um de nós respeite o direito dos outros, sabe? Eu, aqui no Brasil, quando se tratava da questão do aborto, que se dizia que o aborto era uma coisa criminosa, eu costumava dizer “olhe, eu, como cidadão, pai de cinco filhos, sou contra o aborto. Mas eu, como presidente da República, trato o aborto como uma questão de saúde pública.”
GREENWALD: Porque a mulher tem o poder de escolher e não o senhor?
DA SILVA: Lógico! Lógico! Sabe, então eu penso que o Brasil tem evoluído muito, mas em alguns temas ainda estamos muito atrasados.
DA SILVA: Eu queria dizer uma coisa…
[Nesse momento os dois falam ao mesmo tempo]
DA SILVA: Ainda sobre a questão Lava Jato, que você, que é um estrangeiro que está aqui no Brasil, o que me preocupa nesta história do Lava Jato é outra tese que está em curso como é a tese da teoria do domínio do fato.
É a tese que primeiro você detecta um bandido, você carimba alguém de bandido, aí você vai procurar crime para jogar nas costas dele. Eu estou dizendo isso porque todo santo dia aparece alguém dizendo “eles querem pegar o Lula! Eles querem pegar o Lula! É o Lula que eles querem pegar!”.
GREENWALD: Por que eles acreditam que você vai fazer eleição novamente para a presidência, é verdade que você vai fazer?
DA SILVA: Eu não sei, se o motivo é esse, isso é uma bobagem. Deixa eu lhe falar uma coisa, eu duvido que neste país tenha algum empresário que diga que um dia discutiu 5 centavos comigo.
GREENWALD: Antes eles deram muito dinheiro para apoiar a campanha do senhor, tem muito apoio dos negócios, empresas, rádios…
DA SILVA: Aqui no Brasil só dá dinheiro quem é rico, quem é pobre não tem dinheiro para dar. Vamos ser francos! Em nenhum país do mundo um candidato vem da sua casa para ser candidato!
GREENWALD: Precisa do apoio dos ricos.
DA SILVA: É lógico! Nos Estados Unidos é até charmoso, até ganha prêmio quem arrecada mais.
GREENWALD: Obama, Clinton, tiveram muito apoio de Wall Street e grandes empresas.
DA SILVA: Então, deixa eu lhe falar uma coisa, essa era a regra do jogo: você pede dinheiro, o empresário dá o dinheiro, você presta contas, a justiça aprova a conta e acabou.
GREENWALD: E faz favores para os ricos.
DA SILVA: Agora, se criou essa ideia, e o PT defendia a ideia de que vamos acabar com o dinheiro privado na campanha e vamos fazer financiamento público, que é a forma mais digna de fazer campanha.
GREENWALD: Agora o PT não vai aceitar dinheiro de grandes empresas para fazer campanhas?
DA SILVA: O PT decidiu não aceitar a contribuição empresarial para a campanha eleitoral, portanto, eu acho uma coisa extraordinária, uma coisa corajosa e isso pode fazer renascer o PT com muito mais força.
GREENWALD: E se o senhor for numa futura campanha da presidência, vai manter essa promessa de campanha?
DA SILVA: Lógico! Eu já sou muito conhecido.
GREENWALD: Tem muitas críticas da esquerda de que o PT está apoiando muito uma política neoliberalista, que está protegendo o interesse dos ricos e não dos pobres. Isso é válido?
DA SILVA: Não. Nós vamos ter na verdade é que, outra vez, utilizar os trabalhadores, as pessoas mais humildes deste país para fazer a economia do Brasil voltar a crescer. Para isso, nós precisamos de financiamento, de crédito e de parcerias. E isso, graças a Deus, eu quero ajudar a Dilma a fazer.
GREENWALD: Bom, muito obrigado pela entrevista, senhor presidente.
DA SILVA: Obrigado você, querido.